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Carta-convite

Caro/a XXX,


STF, projeto original de Oscar Niemeyer.

Clube.

Há alguns anos, imaginei um trabalho que nunca consegui executar. Fazer uma réplica perfeita do Supremo Tribunal Federal, aquele palco (desenhado por Niemeyer) coberto por um carpete mostarda, com sua mesa contínua, o piso cheio de reentrâncias, a tribuna, os microfones, a bandeira brasileira, as poltronas dos Ministros, cinco de cada lado com a do Presidente entre elas (vide imagem). Pensei em montar essa réplica, durante a noite, na praça central de sete cidades brasileiras.

Previamente acordados com a Secretaria de Cultura desses municípios, chegaríamos de madrugada com nosso caminhão. Desembarcaríamos nosso Supremo silenciosamente, encaixando suas partes, previamente desenhadas para uma rápida montagem. Ligaríamos o sistema de som e iríamos embora, deixando apenas alguns atores e educadores por ali. A cidade amanheceria com aquele óvni pousado, sem que ninguém soubesse bem o que era, nem para quê servia.

Os atores e educadores conversariam com a população, mas sem esclarecer demais nem de menos, sugerindo possíveis usos — um julgamento? uma tribuna? um show? uma rampa para skate? — sem bloquear o que pudesse surgir deste convívio. Nossa réplica passaria alguns dias e noites nessa cidade. De repente, sem aviso, durante uma madrugada qualquer, desmontaríamos nosso Supremo e embarcaríamos suas partes em nossos caminhões, viajando até outra cidade, em outro ponto do país. Poderia ser Brasília. Poderia ser Piracicaba. Quaraí. Altamira. Amarante. Salgueiro. Petrolina.

O que venho propor a você é executarmos este trabalho de outra forma, coletiva e virtual. Você escolheria um local preciso para instalar o Supremo, cujo formato físico é de 9,30 m × 11,30 m. Seria um local de seu afeto, de seu repúdio ou de sua memória, que tenha um significado para você ou para sua comunidade, seja ele benigno ou não. Preciso que você mande algumas fotos dessa localidade, para que possamos inserir o Supremo ali. Pode ser uma praça, um descampado, um campo de futebol, uma estrada, um aeroporto, o que for. Instalaremos eletronicamente o Supremo nessas fotos que você enviar, como se o tivéssemos trazido em nossos caminhões e deixado ali, e mandaremos de volta para que você escreva sobre isso, já em posse da simulação.

Peço a você que utilize o Supremo como quiser em seu texto — descreva um julgamento, gente dormindo em cima dele, um banquete, absolutamente nada (só os animais se aproximando e pastando), o que achar de mais fascinante para uma possibilidade como esta: o Supremo pousado misteriosamente nessa localidade que você escolheu. Peço a você que descreva isso. Que descreva como se tivesse realmente acontecido, com a sua participação direta ou simplesmente como observador. Como se relatasse esse acontecimento para o leitor. Pode ser um conto. Uma reportagem. Um documento. Uma carta de alguém. Um poema. Mas que tenha o Supremo colocado no local que você escolheu como um fato objetivo que dá início a tudo.

Publicaremos seu texto junto às imagens. Faremos um número especial da Revista Rosa com esta ideia.

Desde já agradeço sua atenção, e compreendo perfeitamente se não puder participar. Mas se puder, todos ficaremos felizes e honrados.

Um abraço grande,

Nuno Ramos