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A temporalidade de Rosa: o fim das colunas

Em qual tempo opera a revista Rosa?

A frequência temporal da revista é clara: idealmente a cada dois meses temos um novo número. A temporalidade diz respeito não apenas à frequência, mas também à forma pela qual decidimos lidar com a realidade. Esse registro que a revista cria para si é o que pauta a forma que ela deseja entender o mundo. Desde o início, encontrar a medida exata dessa temporalidade tem sido um desafio constante. Devemos publicar uma resenha de um livro do ano passado? Comentar uma votação no Congresso realizada três meses antes, e novamente sujeita a revisões? Um projeto econômico anunciado com alarde, mas capaz de já ter sido engavetado no momento de nossa publicação? Processos em curso — de um julgamento político a uma negociação de paz — exigem intervenção imediata? Ou, ao contrário, tornam prudente que se espere por seu desfecho, de modo que se possa fazer uma avaliação mais completa? Enfim, de que maneira o tempo da realidade contemporânea atravessa e pauta a revista?

Os modelos de periodicidade que poderíamos tomar como base de comparação são os da revista acadêmica, das publicações mensais, dos semanários e do jornal. Em questão de temporalidade, não de conteúdo, a academia parece trabalhar sub specie aeternitatis, não sendo pressionada pelo cotidiano; as revistas mensais atuam bastante com o formato reportagem, o que significa que preferem cavar a atualidade, para fazer uma pesquisa retroativa que pode ser de meses ou, mais raramente, até de anos; os hebdomadários podem elencar um conjunto de assuntos mais significativos dentro de alguns dias, sendo quase em sua totalidade o espaço do conjuntural; por fim, o jornal está vinculado ao dia e, em sua versão online, a cada hora, ou até minuto, desse dia — ele é a conjuntura do instante, um tipo de tempo sincrônico.

Onde Rosa se encaixa?

O tempo acadêmico nos parece demasiadamente desvinculado do contemporâneo, é um tempo lógico, que obedece aos ditames da teoria, não da prática ou do tempo vivido, que é cotidiano. Nisso certamente há um déficit político que nos é estranho. Contudo, por seu formato, muitos artigos da revista poderiam muito bem fazer parte da academia. Nesse sentido, Rosa está distante de uma revista de reportagens, ainda que o tempo da revista mensal parece estar mais de acordo com isso. Em razão de tratarem seus assuntos a quente e em um espaço curto demais, tanto o semanário quanto o jornal nos parecem carentes daquele vigor analítico que a revista demanda. Além disso, mesmo que quiséssemos, certamente não temos o pessoal necessário para trabalhar nesse registro diário.

Estaríamos, então, em algum registro inexistente, que ficaria entre o tempo da revista mensal (ou bimensal) e o gênero acadêmico. Nessa temporalidade sui generis, os números da revista evitaram dar tratamento imediato à imediatez. Pelo contrário, privilegiando uma abordagem vertical, preferindo encarar os fatos menos como eventos fulminantes do que como uma cadeia de acontecimentos que revelam seu sentido mais profundo ao longo de certa medida de tempo que vai além do cotidiano.

Entretanto, na tentativa de trazer mais dinamismo para o formato que nos parecia engessado, lançamos a ideia das colunas. Alguns editores se propuseram a fazer textos de intervenção de forma a cobrir os temas que a revista deixava escapar em razão de se acomodar bem ao tempo do sobrevoo, e não das rasantes. Por alguns meses, dezenas e dezenas de colunas foram publicadas, todas assinadas individualmente.

Porém, percebemos que as colunas serviram apenas para dispersar a revista em uma miríade de opiniões pessoais e que pouco contribuíram para a consolidação de uma linha editorial sólida, esboçada em nosso texto de Apresentação. O registro temporal das colunas estava em descompasso com aquele da própria revista. Assim, passamos involuntariamente a esvaziar os debates internos e até mesmo a construção do editorial pareceu ser apenas mais uma coluna, o que certamente fragilizou nossa posição como coletivo. O desfile de colunas, cada uma com data marcada, enfraqueceu e, no limite, até mesmo inviabilizou o debate interno, dada a escassez de tempo para debater em detalhe cada uma delas. A temporalidade jornalística corroeu aquela da revista, bimestral, tornando o coletivo uma coleção de individualidades, cada editor/a com seu pequeno espaço, levando a um curto-circuito.

Por conta da insustentabilidade da convivência entre esses dois modelos distintos, gostaríamos de dizer a nossos/as leitores/asas que a partir de agora encerramos nosso experimento com as colunas, para que possamos nos enriquecer com essa delicada criação de um registro temporal singular e, a partir dele, fortalecer nossa identidade coletiva.