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Esporte e estilo

Este dossiê se propõe a convidar artistas e escritores, praticantes ou espectadores apaixonados por alguma modalidade esportiva, a abordar, em forma de ensaio, poesia ou proposta artística, seu esporte de preferência, ou alguns de seus esportes de preferência.

O convite considera, portanto, tornar público perspectivas daqueles que não necessariamente são conhecidos pelo esporte. Para os praticantes de determinado esporte, as atividades físicas são constitutivas e basilares, pois moldam o dia a dia, criando rituais, horários regrados e escalas de prioridades que regem aspectos tanto práticos quanto subjetivos do cotidiano.

Por ser eu mesma praticante assídua de esportes desde minha mais remota infância, e agora também, nestes últimos anos, leitoras de textos sobre o assunto, venho entendendo cada vez mais atividades esportivas como um espaço de pensamento. Por exemplo, questões de ritmo e de repetição, próprias da natação; de disciplina, próprias da corrida; percepção geométrica e de formação de conjunto (a relação com o outro), próprias do hipismo; mentais e estratégias, próprias do tênis, me acompanham para onde quer que eu vá ou no que quer que eu faça. É claro que essas questões estão presentes não só nesses esportes citados, mas em diversos outros. E nem são rigidamente distribuídas da maneira que indiquei, visto que com o tempo e a experiência, as habilidades se retroalimentam e se influenciam mutualmente, ou seja, o que se aprendeu com um esporte pode, muitas vezes, consciente ou inconscientemente, ser aplicado em outro.

Afinal, tanto o esporte quanto a arte, ambos em sentido amplo, estão intrinsecamente vinculados a questões de estilo de quem os “pratica”, sendo, delas também, dependentes.

Em princípio, o dossiê será publicado ao longo deste volume 8 da Revista Rosa, ou seja, dividido em três números bimestrais.

Temos o prazer de publicar neste 8.1 os primeiros três textos do dossiê. O crítico de arte e pesquisador Lorenzo Mammì escreve sobre o boxe em um artigo publicado originalmente em seu livro O que resta;1 o artista Eduardo Climachauska nos conta o que há para ser visto em transmissões de golfe feitas principalmente pela televisão, e o jornalista Fernando Henrique relata as transformações que a corrida provocou em sua vida. O texto de Mammì é ilustrado pelo pintor Lucas Arruda, que nos enviou takes de seu filme Untitled (Neutral Color), de 2018; para o texto de Climachauska recuperamos imagens de fotografias do artista estadunidense Jimmie Durham.