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Nota sobre o editorial

O editorial deste número é publicado depois de um duro e doloroso processo no interior da Revista Rosa, e não reflete integralmente minha opinião sobre a guerra na Ucrânia. Juntamente com Lena Lavinas, e pelas mesmas razões, opus-me a qualquer menção crítica à responsabilidade dos países da Europa Ocidental, dos Estados Unidos ou da Otan no desencadeamento da crise.

Parece existir, mesmo numa revista tão alheia aos esquemas da esquerda tradicional, uma dificuldade em deixar de lado, por um momento que seja, aquela velha atitude “anti-ocidentalista” que, num limite extremo, leva tantos socialistas, petistas, ex-comunistas e demais companheiros a fazer vista grossa às ditaduras de Cuba, Nicarágua ou Venezuela.

Claro, ninguém de Rosa chega perto disso. Mas repito um raciocínio que já publiquei alhures. O ato de Putin, invadindo a Ucrânia, só é comparável ao que fez Hitler na Polônia e na Tchecoslováquia. Naqueles anos, alguém se lembraria de escrever uma nota de repúdio a Hitler lembrando, ao mesmo tempo, que Inglaterra e França “também foram arrogantes” desenvolviam uma política militar capaz de fazer a Alemanha sentir-se sufocada?

Um marido resolve assassinar a mulher — o crime é hediondo; cabe condená-lo. Alguém se lembra, então, que a vítima queria se mudar para a casa do amante, e que este a seduzira com seu poder econômico, sendo famoso pela arrogância e pelas armas que colecionava… Hum, hum, assassinar a mulher é errado, mas não deixemos de criticar a atitude do amante! Bestalhão de marca maior.