As chances de vitória da esquerda na França… inexistem!
original en français
As próximas eleições presidenciais francesas ocorrerão em 10 de abril. As chances de a esquerda voltar ao poder são poucas, se não inexistentes. Ainda mais grave, o risco de ser eliminada da disputa já no primeiro turno é real. Seria a terceira vez em vinte anos. Já em 2002 e 2017, a esquerda foi obrigada a votar em um candidato cuja única virtude era bloquear a extrema direita.
A esquerda francesa é fraca e dividida. É fraca porque está dividida ou é dividida porque é fraca? Ambos, provavelmente.
Parece claro para os eleitores que nenhum partido de esquerda tem o desejo de governar com os outros e nenhum pode reivindicar governar sozinho. A esquerda governou durante vinte anos nos últimos quarenta, metade do tempo! Seja em 1981, 1997 ou 2012, o Partido Socialista foi a força motora e ao seu redor foram organizadas coalizões com o Partido Comunista e/ou com os ecologistas. Hoje, o Partido Socialista não ocupa mais o mesmo lugar no campo da esquerda e nenhuma das outras siglas classificadas à esquerda, a France Insoumise, os ecologistas e o Partido Comunista, a substituíram nesta função de centro das coalizões.
Como chegamos a isso? Claro que, dentro da esquerda, a análise das causas já é objeto de discórdia. A traição da esquerda no poder que se tornou social-liberal, o abandono das classes populares e a renúncia ao seu compromisso com o social em favor de temáticas contemporâneas mais gerais, o ressurgimento do esquerdismo, o abandono dos fundamentos universalistas e republicanos em favor das derivas identitárias, a perda da soberania política em favor de uma Europa liberal e intrusiva. Tudo isso em um cenário de desindustrialização e desemprego. Todas essas explicações, muitas vezes contraditórias, nunca claras, contribuem para manter um clima venenoso baseado em polêmicas que cansaram os eleitores. Cinco anos de macronismo, para glória da start-up nation, completaram a perda dos pontos de referência e aumentaram os antagonismos e as desigualdades sociais e culturais.
Dentre todas essas reflexões, parece-me que uma delas se sobrepõe no cenário. Não podemos compreender a situação da esquerda francesa sem relacioná-la com a especificidade das instituições. A Quinta República, com a eleição do Presidente da República por sufrágio universal, agora quase concomitante à eleição dos deputados, criou o que em genética seria chamado de quimera. O regime político francês não é nem um verdadeiro regime presidencial, nem um verdadeiro regime parlamentar, é um regime bonapartista. O presidente da República é dotado de poderes exorbitantes, em particular o poder de subjugar o Parlamento. A soberania nacional foi transferida para as mãos de um só homem. Não por acaso, os deputados macronistas foram apelidados de “bonequinhos”, nome desses pequenos e idênticos personagens. Essa institucionalidade que coloca o destino do povo nas mãos de um único homem, que, por cinco anos, não é responsável perante nenhuma instituição, é anacrônica, para não dizer arcaica. O movimento dos Coletes Amarelos, que fez muitas exigências participativas, foi uma expressão disso.
Por outro lado, como nenhum partido se impõe à esquerda, a eleição presidencial incentiva a competição entre os diferentes candidatos que só procuram exacerbar sua singularidade e mostrar sua personalidade como “líderes” e que “falam grosso”. Jean-Luc Mélenchon, que afirma denunciar estas instituições, é uma caricatura disso. O debate político, agora encenado em talk shows e programas de entretenimento que são patéticos para aqueles que deles participam, está seriamente debilitado.
Nossas instituições são uma anomalia dentro do espaço europeu. Todos os nossos vizinhos têm sistemas parlamentares ou de primeiro-ministro. A eleição cardinal é a dos deputados e o governo procede da maioria ou das coalizões que surgem. Isto muda tudo.
A soberania do povo permanece no Parlamento.
A esquerda francesa está sufocada pelo presidencialismo. Seu oxigênio deve ser primeiro o de uma mutação em direção a instituições verdadeiramente democráticas e modernas. Se esta condição não for necessariamente suficiente, ela é certamente necessária.