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Três vezes Butler

Apresentação

Quando, em 2015, a filósofa Judith Butler veio ao Brasil pela primeira vez, havia apenas dois de seus livros traduzidos: Problemas de gênero (Civilização Brasileira, 2003) e O clamor de Antígona (Editora da UFSC, 2014), numa enorme defasagem em relação a uma obra que, naquele distante 2015, já somava dezessete títulos originais.

Suas duas visitas ao país, a segunda em 2017, foram o primeiro impulso para a edição brasileira de seus livros. Hoje, cinco anos depois, o mercado editorial chega ao fim de 2021 com a tradução de três títulos — A força da não violência (Boitempo Editorial); Discursos de ódio (Editora Unesp); e Os sentidos do sujeito (Editora Autêntica) — completando a notável marca de publicação, em português, de 16 das 18 obras de Butler. Com a previsão de tradução de Undoing Gender para 2022, a bibliografia de títulos individuais estará completa, faltando apenas sua tese de doutorado, Subjects of Desire (1987).

A revista Rosa reúne aqui quatro resenhas que discutem os lançamentos brasileiros deste ano: sobre A força da não violência, livro mais recente da filósofa, editado nos EUA em fevereiro de 2020, as resenhas de Arthur Hussne e Clara Barzagui apontam para diferentes possibilidades de leitura, dos limites e das potências da proposição de não violência com a qual Butler parece caminhar em direção a uma ampliação do seu tema de crítica à violência de Estado, elemento constante na sua filosofia. Já Discursos de ódio, originalmente de 1997, poderia ter sido escrito para o Brasil de hoje, como bem observa desde o início a resenha de Victor Galdino.

Por fim, para Os sentidos do sujeito, Beatriz Zampieri, Gabriel Ponciano e Luís Felipe Teixeira indicam como, na coletânea que reúne artigos escritos ao longo de dezenove anos, e editado em 2015, Butler expõe sua trajetória pela história da filosofia em interlocuções com autores como Descartes, Kierkegaard, Merleau-Ponty, Malebranche, Spinoza, Sartre, Fanon e, como não podia deixar de ser, Hegel, com quem ela estabelece uma permanente conversa filosófica que, mais de perto ou mais distante, gira em torno daquilo que desde a década de 1990 ela define como sua preocupação central: “Todo o meu trabalho está inscrito em torno de um conjunto de perguntas hegelianas: ‘qual é a relação entre desejo e reconhecimento e a que se deve que a constituição do sujeito suponha uma relação radical e constitutiva com a alteridade?’”.