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Fajardo espectro contato

Apresentação

Fajardo 2021, Beatriz Toledo

— Com o maior prazer. Apresentamos esse painel a partir da extensa obra de Carlos Fajardo, que desde os anos 1960 nos convida a uma participação ativa, somática e mútua. Com matéria e tempo próprios, as peças, em sua alteridade, esperam e solicitam do espectador um corpo presente, em todos os sentidos.

Caminhar seguindo sua extensão, dar a volta em seus volumes, ir de uma peça a outra, se aproximar, se afastar, girar o pescoço e lançar olhares demorados à superfície, acima e abaixo, na frente e às costas. Não sabemos em que momento nos transformamos em sua contraparte, mas seguimos com esse trabalho que se desenha em torno dos limites indefinidos entre um ser e outro e o que os envolve — uma troca constante numa relação aberta.

Este dossiê aponta a uma produção em constante atualização. A diversidade de linguagens e motivos presente propicia um acercamento através de autores que acompanham e mantém diálogos distintos com o artista e com sua obra.

Desejamos uma boa leitura.

— Um brinde.



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Fajardo espectro contato abre com sua voz que ouço quando falo (Carlos Fajardo), onde o pensamento que advém na expressão oral do artista se apresenta nas quatro faixas de áudio — mesa / passos / faces / viés — editadas a partir de conversas com Débora Bolsoni, Renata Scovino, Wallace V Masuko e Marcelo Zoppi. Este último, em lado, escreve um poema mapa a partir da obra de Fajardo, espécie de labirinto onde o leitor tateante escorrega de palavra a palavra, de sentido em sentido. Seguimos com Lágrimas de Narciso, texto em que a exposição Espelho no espelho é refletida no Mito de Narciso através da narrativa minuciosa e entorpecente de Henrique Xavier, quem também traduz Exposição 24/7, no qual Michael Connor medita a duração específica do streaming para uma plataforma de arte digital [aarea.co] a partir da quina de paredes de uma casa, obra inaugural de Fajardo para internet. Em Carlos Fajardo: a generosidade da vida, Rodrigo Naves retrata em prosa breve o artista e amigo, de quem tratou da obra em textos como Um mar de costas, de 1984. Mais e mais uma vez — Renata Pedrosa delineia o constante aprendizado com o professor, a quem acompanhou, como assistente, nas suas aulas de desenho na Universidade de São Paulo. E, no ensaio fotográfico em sete atos, Como reger de olhos fechados, Patricia Osses alumbra e perfila gestos dialógicos do orador, à escuta de cada interlocutor interessado. O dossiê fecha com Rayban, notas de Wallace V Masuko que tentam contar as multiplicidades da obra iniciada em 1966: Neutral.



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Agradecemos a Carlos Alberto Fajardo por sua disposição para conversar — a fala abre uma clareira —, pelos quatro vídeos de sua obra Cinema mudo que acompanham boa parte da leitura deste dossiê e pelas imagens cedidas por ele. A Caio Polesi pela programação alternativa, a Beatriz Toledo pelo retrato nesta apresentação, a Antônio Ewbank e a Daniel Nasser pela frase e desenho no texto Mais e mais uma vez e a todas autoras e autores, amigas e amigos, que colaboraram para esse dossiê com imagens, sons, textos, vídeos e entusiasmo.