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Memórias

Testemunho

original en français

Olá,1

Como sou belga e francófona, e infelizmente não compreendo o português, permito-me dirigir-lhes esse e-mail em francês.

É por vosso intermédio que soube da morte do Ruy neste 1º de maio. Vocês vão entender a que ponto essa notícia me tocou quando eu lhes contar, em breves palavras, as circunstâncias em que conheci o Ruy.

Hoje, tenho 63 anos. Sempre fui muito interessada pelo pensamento de K. Marx, principalmente por sua herança hegeliana. Há mais ou menos 25 anos, em Bruxelas, eu e alguns amigos formamos um grupo de discussão sobre esse tema. No mesmo momento em que esse grupo acabou, deparei-me por acaso com o livro do Ruy, Marx: Lógica e Política. Fiquei tão impressionada que, aos 40 anos, decidi fazer o curso em História da Filosofia na Universidade Livre de Bruxelas, apenas com o objetivo de ter uma formação filosófica suficiente para poder contactar Ruy no dia em que concluísse meus estudos. Depois de 5 anos de estudos bem-sucedidos, enquanto trabalhava e cuidava dos meus filhos, finalmente pude contactar o Ruy, a princípio por e-mail e em seguida por telefone. Eu continuava muito impressionada, mas combinamos de nos encontrar em Paris para nos conhecermos e conversarmos… sobre lógica e política… e, claro, sobre muitas outras coisas, como vocês podem imaginar!

Após esse primeiro encontro muito amigável e muito rico humana e intelectualmente, fui várias vezes até a casa do Ruy e, a cada vez, sentíamos o mesmo prazer do reencontro. Depois disso, a vida nos distanciou um pouco e acabamos perdendo contato.

No entanto, releio com frequência seus textos, mesmo que sua tradução francesa às vezes me pareça obscurecer o sentido. Mas é verdade que, para o Ruy, um significado obscuro não necessariamente queria dizer um significado confuso: longe disso!

Eu então gostaria de prestar homenagem e exprimir minha grande estima, e também minha enorme gratidão ao Ruy, um pensador e um ser humano fora do comum e de quem eu sempre lembrarei, sobretudo porque seus textos continuarão sendo uma referência permanente para mim. Eles continuarão a me fazer entender melhor, não apenas K. Marx, mas também o modo de vida em que vivemos.

— cordialmente,
Laure Heymans