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Augusto de Campos, 90 anos

Apresentação

Daniel Scandurra

“O mais jovem dos poetas brasileiros”, assim comenta um internauta em uma das postagens de @poetamenos, a conta de Augusto de Campos no Instagram. Ninguém contesta o comentário em questão, não importa qual seja a geração de quem nos lê. O espírito contemporâneo de Augusto de Campos, que recém completa 90 anos, só se atualiza ao longo dos tempos, desde a segunda metade do século passado, quando, em 1951, publica seu primeiro livro de poemas, O rei menos o reino, seguido, no ano seguinte, da revista Noigandres, organizada junto ao irmão Haroldo de Campo e Décio Pignatari. O que se vê aí antecipa as possibilidades de uma poesia que, pretensamente alheia ao lirismo sentimental, vai, mais tarde, em 1956, desembocar no concretismo, movimento de reconhecimento nacional e internacional.

A foto — inédita — foi tirada por Lygia de Azeredo Campos em agosto de 1963, na Serra da Rolamoça (Belo Horizonte), durante a Semana de Vanguarda. Na ocasião, Augusto diz ter fotografado nesse ”mesmo cenário e ângulo eisenteniano” Leminski, então um garoto de 18 anos, que acabara de conhecer. Na foto, Leminski segurava a antologia Noigandres 5 (1962), presenteado por Augusto, que lhe anteviu um "futuro brilhante".

A atuação de Augusto de Campos no cenário poético internacional, via tradução, capta o que há de transformação na poesia e nas artes. Suas escolhas tradutológicas, assim como sua prática — que se afirma inventiva —, têm papel fundamental na formação de uma geração atenta às novidades vanguardistas norte-americanas, europeia, russas, ambientando a discussão para a recepção do concretismo no Brasil. Já no início deste século XXI, o encontro de sua poesia com os aparatos de programação via computador, apenas amplia suas possibilidades de pesquisa, então favorecida pelo grafismo, pela animação, pela sonoridade, pela combinação. No prefácio do seu livro Não (2002), Augusto revela: “Os computadores desarrumaram os meus livros”.

Em homenagem aos 90 anos do nosso luminoso poeta, convidamos especialistas, admiradores, amigos, poetas, artistas e tradutores cuja influência de Augusto está presente e é mesmo evocada com orgulho. Agradecemos a colaboração de Marjorie Perloff, Nancy Perloff, Gonzalo Aguilar, Caetano Veloso, André Vallias, Marcelo Noah, Eduardo Jorge, Raquel Campos, Patricia Lino, Guilherme Gontijo Flores e Daniel Kondo por terem aceitado nosso convite e festejado juntos a vida e a obra de Augusto de Campos. Agradecemos, ainda, Marina Bedran, Matheus Ichimaru e Nicolas Llano, que nos auxiliaram com os convites e as traduções.

Nosso dossiê conta ainda com uma foto inédita — nesta página — e dois poemas recentes, nunca antes publicados.