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“Capitalismo racial”

Introdução

O debate acerca da dimensão racial do capitalismo, indissociável de suas origens, divide a intelectualidade americana. Essa clivagem, aliás, não vem de hoje e grassa sobretudo entre marxistas e acadêmicos progressistas. Com a potência do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) nos Estados Unidos e a explosão reiterada de lutas antirracistas em todo o país, em meio a uma crise econômica e social que perdura desde a primeira década de 2000, volta à tona a polêmica sobre o conceito e sua pertinência para entender as contradições engendradas pela marcha do capitalismo contemporâneo.

O termo capitalismo racial foi cunhado por Cedric Robinson, professor emérito de ciência política e estudos raciais (Black Studies) da Universidade da California Santa Barbara em 1983. Em seu livro Black Marxism: The Making of the Black Radical Tradition (1983) Robinson, falecido em 2017, relê Marx para apontar que sua análise monumental do capitalismo havia ignorado o papel dos movimentos de resistência à progressão do capital fora da Europa, além de desprezar o racismo que já sob o sistema feudal racializava os despossuídos e os discriminava por origem. Robinson vê racismo e capitalismo se expandindo de forma concatenada, de início em solo europeu, onde surgem as primeiras práticas de colonização interna de povos. Assim, racismo e capitalismo integrados vão dar lugar a um novo sistema mundo, que Robinson denomina capitalismo racial, sistema assentado na escravidão, na violência, na expropriação, no imperalismo, no genocídio. Sistema esse que preside ao desenvolvimento das relações capitalistas de produção em sua periferia, ancorado desde sempre na escravidão e no racismo.

A Rosa traz para suas páginas os termos do debate que travaram nas páginas da revista de esquerda americana Dissent o cientista político marxista Michael Walzer, pesquisador emérito do Instituto de Estudo Avançado (IAS) de Princeton, de um lado, crítico do conceito, e, de outro, Olúfémi O. Táíwò and Liam Kofi Bright, respectivamente professor assistente de filosofia e ética na Universidade Georgetown e professor assistente de Ciência Política na London School of Economics. Ambos estimam que a teoria do capitalismo racial é uma ferramenta que dá conta das contradições reais do capitalismo por fazer da raça um fator constitutivo das hierarquias de reprodução ampliada do capital.

A cereja do bolo fica por conta do instigante artigo de Tâmis Parron (UFF), escrito especialmente para a Rosa, num diálogo crítico com os autores anglo-saxões.

Vale a pena conferir!