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Memórias

Que difícil escrever esta nota com verbos no pretérito.

Ruy é amigo de longa data. Passeamos juntos por Paris e por São Paulo, assistimos filmes, visitamos a exposições, jantamos juntos, de preferência no Hiro, um japonês em São Paulo, ou no Chez Marianne, um tradicional judeu no Marais, almoçamos à distância (online) em tempos de pandemia, enviamos emails, trocamos mensagens todos os dias por Whatsapp e até cachecol, sapatos, celular e barbeador compramos juntos!

“Trocamos impressões” sobre o mundo, sobre a política, sobre literatura, sobre filmes, sobre minha pesquisa, sobre seus textos, sobre a vida, sobre arquitetura moderna (amizade começou com ele sendo meu “informante informal”!). E sempre que usamos essa expressão que ele me ensinou, mostramos as digitais um para o outro e tocamos o polegar (para “trocar impressões”), pois era assim que ele fazia com seus amigos da escola, no tempo que ele estava na quarta série. Era, segundo me disse, a expressão da moda entre essa molecada nos anos 1940. Eu devo ter entrado para a turma.

Esse vídeo é o reveillon deste ano, 2020, mais um que passamos juntos: Ruy toca piano, todo mundo dança, e canta, e ri, e faz graça, e eu fora do ritmo, como sempre… Nesse dia, a farra é tanta que atravessou a madrugada, já não tinha mais metrô e Ruy dormiu no sofá-cama da nossa sala. Quando partiu, deixou o bilhete: “Obrigado pela estadia mes chères amis. Coloquei dois camenberts, um jambon e um espumante na geladeira. Tinha esquecido na minha mochila”. É assim que o guardarei na memória e no coração.

Obrigada, Ruy.