1

Dou valor a cada forma de vida1

ilustração: Maura Grimaldi

Dou valor a cada forma de vida, a neve, o morango, a mosca.
Dou valor a​​o reino mineral, a assembleia de estrelas.
Dou valor a​​o vinho enquanto dura a refeição, ao sorriso involuntário,
ao cansaço daqueles que nunca foram poupados, a dois velhos que se amam.
Dou valor àquilo que amanhã não valerá mais nada,
e o que ainda vale muito pouco hoje.
Dou valor a todas as feridas.
Dou valor à economia da água, ao reparo de um par de sapatos, a ficar calado, a dar um grito, a pedir permissão antes de se sentar,
a sentir gratidão sem se lembrar por quê.
Dou valor a saber onde num quarto é o norte,
saber o nome do vento que está secando a roupa.
Dou valor à jornada do vagabundo, ao claustro da freira,
a paciência dos condenados, seja qual for a culpa.
Dou valor ao uso do verbo amar e a hipótese de que existe um criador.
Muitos desses valores eu não conhecia.


Considero valore ogni forma di vita

Considero valore ogni forma di vita, la neve, la fragola, la mosca.
Considero valore il regno minerale, l’assemblea delle stelle.
Considero valore il vino finché dura il pasto, un sorriso involontario,
la stanchezza di chi non si è risparmiato, due vecchi che si amano.
Considero valore quello che domani non varrà più niente
e quello che oggi vale ancora poco.
Considero valore tutte le ferite.
Considero valore risparmiare acqua, riparare un paio di scarpe,
tacere in tempo, accorrere a un grido, chiedere permesso prima di sedersi,
provare gratitudine senza ricordare di che.
Considero valore sapere in una stanza dov’è il nord,
qual è il nome del vento che sta asciugando il bucato.
Considero valore il viaggio del vagabondo, la clausura della monaca,
la pazienza del condannato, qualunque colpa sia.
Considero valore l’uso del verbo amare e l’ipotesi che esista un creatore.
Molti di questi valori non ho conosciuto.